segunda-feira, 6 de abril de 2009

"Canta uma esperança desatinada para que enfureçam silenciosamente os cadáveres dos afogados.
Canta para que grasne sarcasticamente o corvo que tens pousado sobre tua omoplata atlética.
Arranca do mais fundo a tua pureza e lança-a sobre o corpo felpudo das aranhas.
Ri dos touros selvagens carregando nos chifres virgens nuas para o estupro nas montanhas.
Pula sobre o leito cru dos sádicos, dos histéricos, dos masturbados e dança!
Dança para a lua que está escorrendo lentamente pelo ventre das menstruadas.
Deita a tua alma sobre a podridão das latrinas e das fossas.
Por onde passou a miséria da condição dos escravos e dos gênios.
Canta! Canta demais!
Nada há como o amor para matar a vida.
Amor que é bem o amor da inocência primeira!
Canta! O coração da donzela ficará queimando eternamente a cinza morta.
Para o horror dos monges, dos cortesãos, das prostitutas e dos pederastas.
Suga aos cínicos o cinismo, aos covardes o medo, aos avaros o ouro.
E para que apodreçam como porcos, injeta-os de pureza!"

Trecho de Balada Feroz- Vinícius de Moraes

Um comentário:

  1. Senti algo forte ao ler essa postagem...muito bom o texto e as coisas que escreve.

    Cm anda a vida? Aparece lá no sopros...
    Bjão e saudade!
    Ps- Lembra de mim ainda né?
    kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

    www.soprosdoeu.blogspot.com

    ResponderExcluir