sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

ela me tece um futuro indizível*** *entre portas e laços e entre passos** *eu passo, tropeço, anoiteço*** *deito minha cabeça no vão da porta que ela quer bater* *aí a menina entra, olha e escuta atenta** *a vida que vem de enxurrada** *é tapa na cara e beijo de língua** *ser feliz é sina?** **ser feliz ensina**

quarta-feira, 14 de novembro de 2018

Do amor e outros demônios

De qual amor eu vou comer as letras? Daquele amor de sal e sol e carteado? Daquele que me espia entre as frestas da floresta mas não me toca sequer um blues Preocupado que está com o futuro que não existe? Seria assim sim: amor da cabeça aos pés se nele acreditasse Mas na tenra idade da minha loba idade, me preocupo mais com o vento frio que me corrói de madrugada que com os múltiplos dejetos desejos que tua pele me instiga Que tua posse instiga No final se trata disso. Amar o que não nos possui, meu amor E por não me possuíres é que serei sua por completo E insistirei em nós tal qual uma formiga que retorna a sua casa: atenta e obstinada, certa do nosso destino incerto Feliz pelo tudo, feliz pelo nada, grata pelo abrigo

domingo, 22 de abril de 2018

Que nos arde ser fragmentos E não metades

domingo, 4 de março de 2018

Me beija que eu tô de bobeira

Na outra madrugada a lua se põe mais tarde São outros beijos Nem mais nem menos saborosos que o seu A lua é cheia e os beijos sem promessas O tempo é muito curto pra nos prometer qualquer coisa Até a lua virá em algum momento vazia e escura O verão acaba em meu coração E embora minha minha íris tenha guardado a memória dos seus olhos doces fixos no meu No outono já não poderei jurar que lembrarei de ti Aqui dentro tudo se transmuta na velocidade da lua. Ou das estações, de urano, de saturno. Se transmuta. Não me peça nem me despeça nada. Só me beije se você for capaz.

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Nos serviram de certezas Disseram que a culpa era cereja do bolo pra justificar a dor Disseram que amar é possuir mais que estar atento Que os livres morrem cedo Que as puras morrem de tarde, de tarde demais E que existe quem seja feliz o tempo todo Nos disseram que uma andorinha sozinha não faz verão Meu bem, quem faz o verão é o sol, as andorinhas são meras convidadas
Tem tem gente que gosta de dinheiro Tem gente que gosta de problema Eu gosto é de poema!

A foliã e o andarilho

Não sei. Só sei que foi assim, certamente diria Chicó. Não sou gauche nem sou Carlos, mas encontrei umas pedras no meio do caminho. Naquela quarta feira haviam cinzas. Eu ansiosa e confusa pelas brasas mortas que assaram a carne de Carnaval e não me alimentaram tanto o espírito. Com vontade de comer e já não tinha fome. Tinha era uma bússola guardada no coração. Se nosso destino é inventado, livre arbítrio é o norte anarco-tântrico da jovem andarilha travestida de velha foliã. Eu olho as escolhas como a um mapa e elas me guiam aos encontros. Às vezes aos desencontros. Meu novo encontro chegou, em pleno pôr do sol de um dia de chuva. Andarilho como eu. Dessa vez era ele quem estava de passagem. Entre chás, dubs e pranayamas, uma noite se passou. De manhã ele sorriu. Ouviu meus sonhos, me beijou e partiu. Deixou a freqüência da paz, do acalento, da certeza, do sossego. Com coração fervido na água que nos molhava só para contrariar as cinzas da quarta feira que teimaram em não arder. Mãe, eu não sou cristã, mas acho que conheci um anjo.

sexta-feira, 1 de setembro de 2017

Da boca eu falo Escorre mel, escorre fel, escorre nada Do corpo escorre uma vomtade descabida Sonhos não pensados. Escorre mínimas feridas Da alma nada escorre, tudo inunda Em minha altivez eu sou profunda Esse poema me completa, me contempla Vácuo venha a mim, pois estou plena Venham anjos ou abutres, sou serena.

terça-feira, 5 de agosto de 2014

Meus desencontros são com gente que não tem poesia em seus corações. E não sabem viver de metáforas. E por isso não podem me compreender. E são exatos demais. E vêem um elefante onde eu vejo um arco íris. E vêem uma luz branca onde eu vejo fractais. Eu sou incabível. Minha alma não se comunica com essas divergências. Cansei de brigar. Quero o calor de quem me aceita só de olhar.

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Nesse jogo de valores qual é meu preço? Pago o preço que for pra me despir das minhas idéias Pra te vestir com minhas idéias Pra fazer das suas idéias as minhas Eu valho menos corrompida pelos seus valores? Eu não valho nada vestida com minhas mentiras? E na roleta russa desse meu guarda roupa obsceno, quem me dá mais garantia?

sexta-feira, 11 de julho de 2014

A lua é cheia, os lobos são loucos, o coração é repleto e eu sou serena. Serei plena nesse tempo de replantar-me. Serei eu nesse tempo de repartir-me. Serei minha no tempo de desabrochar-me.

sábado, 28 de junho de 2014

Gosto do cheiro dos outros encruado na minha pele. Cheiro é o maior atestado de amor que o amor pode dar. Daquele amor em seu estado mais primitivo, sem delongas nem contratos. Do amor que fica porque foi intenso demais pra durar toda eternidade. Daquele amor que é amor porque foi devidamente compartilhado e expande o peito até o infinito. Daquele amor que se transforma mas nunca acaba. Porque amor não acaba, só multiplica.