quarta-feira, 14 de novembro de 2018

Do amor e outros demônios

De qual amor eu vou comer as letras? Daquele amor de sal e sol e carteado? Daquele que me espia entre as frestas da floresta mas não me toca sequer um blues Preocupado que está com o futuro que não existe? Seria assim sim: amor da cabeça aos pés se nele acreditasse Mas na tenra idade da minha loba idade, me preocupo mais com o vento frio que me corrói de madrugada que com os múltiplos dejetos desejos que tua pele me instiga Que tua posse instiga No final se trata disso. Amar o que não nos possui, meu amor E por não me possuíres é que serei sua por completo E insistirei em nós tal qual uma formiga que retorna a sua casa: atenta e obstinada, certa do nosso destino incerto Feliz pelo tudo, feliz pelo nada, grata pelo abrigo

domingo, 22 de abril de 2018

Que nos arde ser fragmentos E não metades

domingo, 4 de março de 2018

Me beija que eu tô de bobeira

Na outra madrugada a lua se põe mais tarde São outros beijos Nem mais nem menos saborosos que o seu A lua é cheia e os beijos sem promessas O tempo é muito curto pra nos prometer qualquer coisa Até a lua virá em algum momento vazia e escura O verão acaba em meu coração E embora minha minha íris tenha guardado a memória dos seus olhos doces fixos no meu No outono já não poderei jurar que lembrarei de ti Aqui dentro tudo se transmuta na velocidade da lua. Ou das estações, de urano, de saturno. Se transmuta. Não me peça nem me despeça nada. Só me beije se você for capaz.

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Nos serviram de certezas Disseram que a culpa era cereja do bolo pra justificar a dor Disseram que amar é possuir mais que estar atento Que os livres morrem cedo Que as puras morrem de tarde, de tarde demais E que existe quem seja feliz o tempo todo Nos disseram que uma andorinha sozinha não faz verão Meu bem, quem faz o verão é o sol, as andorinhas são meras convidadas
Tem tem gente que gosta de dinheiro Tem gente que gosta de problema Eu gosto é de poema!

A foliã e o andarilho

Não sei. Só sei que foi assim, certamente diria Chicó. Não sou gauche nem sou Carlos, mas encontrei umas pedras no meio do caminho. Naquela quarta feira haviam cinzas. Eu ansiosa e confusa pelas brasas mortas que assaram a carne de Carnaval e não me alimentaram tanto o espírito. Com vontade de comer e já não tinha fome. Tinha era uma bússola guardada no coração. Se nosso destino é inventado, livre arbítrio é o norte anarco-tântrico da jovem andarilha travestida de velha foliã. Eu olho as escolhas como a um mapa e elas me guiam aos encontros. Às vezes aos desencontros. Meu novo encontro chegou, em pleno pôr do sol de um dia de chuva. Andarilho como eu. Dessa vez era ele quem estava de passagem. Entre chás, dubs e pranayamas, uma noite se passou. De manhã ele sorriu. Ouviu meus sonhos, me beijou e partiu. Deixou a freqüência da paz, do acalento, da certeza, do sossego. Com coração fervido na água que nos molhava só para contrariar as cinzas da quarta feira que teimaram em não arder. Mãe, eu não sou cristã, mas acho que conheci um anjo.