sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

A foliã e o andarilho

Não sei. Só sei que foi assim, certamente diria Chicó. Não sou gauche nem sou Carlos, mas encontrei umas pedras no meio do caminho. Naquela quarta feira haviam cinzas. Eu ansiosa e confusa pelas brasas mortas que assaram a carne de Carnaval e não me alimentaram tanto o espírito. Com vontade de comer e já não tinha fome. Tinha era uma bússola guardada no coração. Se nosso destino é inventado, livre arbítrio é o norte anarco-tântrico da jovem andarilha travestida de velha foliã. Eu olho as escolhas como a um mapa e elas me guiam aos encontros. Às vezes aos desencontros. Meu novo encontro chegou, em pleno pôr do sol de um dia de chuva. Andarilho como eu. Dessa vez era ele quem estava de passagem. Entre chás, dubs e pranayamas, uma noite se passou. De manhã ele sorriu. Ouviu meus sonhos, me beijou e partiu. Deixou a freqüência da paz, do acalento, da certeza, do sossego. Com coração fervido na água que nos molhava só para contrariar as cinzas da quarta feira que teimaram em não arder. Mãe, eu não sou cristã, mas acho que conheci um anjo.

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